segunda-feira, março 23, 2009

Jardim da Estrela - img da web
Passeando pela Memória - I
Com a chegada de uma nova Primavera, veio-me à lembrança o cheiro do Jardim da minha infância.
Atravessá-lo, era o caminho mais curto entre o colégio e a minha casa e, se no Inverno ou quando chovia, eu era literalmente puxada pela mão da minha avó, nos dias em que o sol permitia, ficávamos deambulando por ali.
O percurso era sempre o mesmo: corria o máximo que as minhas pernas pequeninas permitiam até chegar ao coreto; aí, subia e descia as escadas frenéticamente, esperando a chegada da minha avó. Iniciava-se então, a segunda parte do trajecto, uma corrida desenfreada para a estátua do "Lavrador". Era uma praxe. Em redor havia sempre crianças que esperavam a sua vez para a escalada. Quando conseguiam encarrapitar-se nos ombros do "pobre homem", ouviam-se os aplausos.
Durante muito tempo, lembro-me de ficar imóvel assistindo maravilhada, ao esforço feito pelos outros miúdos.Muitos tiravam os sapatos e saltitavam de pés descalços, esperando impacientemente pela sua vez outros, com pernas esguias e o dobro da minha altura, lançavam um olhar desdenhoso e num ápice chegavam ao topo.
Um dia, enchi-me de coragem, avancei, ergui a perna pequenina mas o pé não encontrou qualquer apoio.
Então, um dos espigadotes lançou-me aquele que julguei ser o meu primeiro insulto:
-Querem lá ver a catraia?!
A gargalhada foi geral. Corri buscando o conforto da mão da minha avó enquanto a palavra "catraia" me martelava os ouvidos.
Já não me recordo quanto tempo demorou a conseguir trepar o Lavrador.


3 comentários:

casa da poesia disse...

amo el canto de zenzontle
pájaro de cuatrocientas voces...!?...salut!

g disse...

Bom regresso recheado de memórias, essa é uma zona onde eu trabelhei muito tempo, também ferquentei muito esse jardim mas já bem adulta.

Bjs

Anónimo disse...

..e eu... continuo a frequentar! Um jardim de imensas memórias, antigas e recentes, um jardim onde volto sempre que posso! :)