quarta-feira, dezembro 05, 2007



Todos nós somos marionetas, neste palco da vida. Umas vezes somos os manipuladores, outras os actores.

A sala vai-se enchendo, a peça iniciar-se-á dentro de momentos.
Sobe o pano. No palco um cenário de flores, borboletas esvoaçando e um sol do tamanho do mundo. Do canto esquerdo surge a personagem principal, uma pequena marioneta-menina ligada por fios a umas mãos mãos ternas capazes de a manipular com doçura.
Ela, a marioneta-menina, esvoaça por entre as flores, brinca com as borboletas e olha encantada as mãos que a guiam, umas mãos protectoras capazes de a fazer rodopiar e soltar gargalhadas.

O público aplaude a representação. O pano fecha. Fim do 1º acto.

2º acto . Abre-se o pano, estupefacto, o público reage à mudança de cenário. Uma sala cinzenta desgastada pelo tempo e quase vazia de sentido. A um canto uma cadeira. Do canto direito surge a marioneta-mulher puxada por mãos vigorosas, curiosamente as mesmas mãos mas manipulando-a, agora, com alguma brutalidade. Os pés da marioneta-mulher arrastam-se percorrendo o chão gasto, da direita para a esquerda, da esquerda para a direita cada vez com mais violência e menos sentido. Exausta, a pequena marioneta consegue sentar-se na cadeira. Lágrimas grossas rolam-lhe pela face inclinada para o chão, formando um lago de dor.
As mãos puxam-na, tentam levantá-la, cada vez mais brutais.
Subitamente a marineta-mulher ergue a cabeça e fita as mãos que a castigam e, num esforço único, corta os fios que a prendem.
Corre, então, pela coxia do teatro e, escancarando a porta, sai para o ar livre.

Não sei o que aconteceu à marioneta-menina-mulher da peça a que assisti. não sei se voltou a encontrar novas mãos capazes de a manipular, se passou a ser mãos manipuladoras ou se abandonou este tipo de representação e não mais pisou o palco.

13 comentários:

a disse...

Cortou amarras e fez-se à vida.

M.M disse...

E fez ela muito bem! :))

carpe diem disse...

Esperemos que se tenha libertado de vez e que seja feliz...

despertando disse...

A liberdade é tudo de melhor que existe na vida.
Que essa menina continue sem amarras

Teresa Durães disse...

gosto do modo prosaico de carpem Diem. Como se a vida fosse o conto moralista do "viveu feliz para sempre". Antes fosse. A maturidade vai revelando o contrário.

Quanto à peça (?) a essência de cada ser tem de ser seguida. Por isso as abelhas picam e morrem em defesa pessoal.

Mié disse...

Ficou tudo em aberto...

Libertou-se, e isso é um bom pronúncio.

Fica bem

Um beijo

Anónimo disse...

Laços de afecto, fios, mais ou menos fortes, que nos ligam aos outros.
Compreender as necessidades de cada um e ajudar a que cresçam, crescendo também.
O que é que eu preciso, o que é que "tu" precisas.
Amor, respeito, atenção, comunicação, espaço,... e mais amor.

Anónimo disse...

Certamente os sentimentos da marioneta do 1º acto eram a consequência da amizade que encontrara naquelas mãos protectoras e ternas que a manipulavam com doçura.
O 2º acto dominado pela solidão talvez a tenha impelido ao encontro de uma outra marioneta, também ela solitária, que a acolheu nos seus braços e voaram na esperança de encontrar a felicidade que mereciam.

Anónimo disse...

Não sou um génio do romantismo, muito menos a dona da ciência amorosa, mas tenho no meu coração a sensibilidade de uma mulher apaixonada.
Terá acontecido o mesmo à marioneta que cortou as amarras e partiu procurando afectos?

bettips disse...

Afectos não se procuram: encontram-se. Mas é preciso deixar o "teatrinho" das marionetas, tal como ela fez, correndo pela coxia perante olhos admirados. Bjinhos

Anónimo disse...

Para se encontrar seja o que for, tem que haver procura...é utopico pensar que as coisas acontecem por acaso.Se ela deixou o "teatrinho" das marionetas foi para se libertar das amarras e partir à procura duma liberdade que a fizesse de novo feliz.E essa liberdade seria feita de quê?De afectos, claro!

MIMO-TE disse...

Afinal tudo correu bem, teve amor e carinho, mas também soube voar quando não encontrou o amor. É mulher, pois claro! :))


Muito belo!
Deixo mimos

M.M disse...

Ó «Vizinha»...
Risos.
Por onde andas?
Muda lá o post!
Ainda não é Natal.
Risos.
Bjs.
Espero que tudo bem contigo.