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Sento-me a uma mesa no interior do café, a mais escondida que consegui arranjar. Não tenho fome mas tenho os comprimidos para tomar. Um galão e um pão com manteiga, por favor.
Sento-me à minha frente e vou olhando para um rosto cansado. Nos braços cadeias que prendem ao dever; os olhos baços mergulham no galão, procurando não sei bem o quê. Continuo esta espera sem sentido e vou-me impacientando.
Vou mastigando sem pressa o pão com manteiga que tem sempre um gosto divinal. Num gesto que tenta parecer rotineiro, retiro dois comprimidos pequeninos e engulo-os esperando que o resultado seja o desejado.
Que estupidez, e se caio para o lado?! Que importância teria, não quero fazer a porcaria do exame. Não quero passar o resto do dia entre as paredes do hospital.
Pago, levanto-me e dirijo-me para a porta. Sorrio a quem me cumprimenta e evito diálogos longos, sem sentido. Resolvo ir a pé até ao hospital. O dia está fresco e tenho muito tempo.
Deixo-me ficar, não me apetece acompanhar a minha ida ao hospital. Sigo para o jardim da Fundação. páro junto ao lago e estranho não ver o meu reflexo. Só momentos depois me lembrei que este deveria caminhar em direcção ao hospital. Enfio os pés descalço no lago e vou-me passeando sobre as águas. Estranhamente, os seguranças ignoram-me e nem me chamam a atenção quando pego com todo o cuidado, num nenúfar.
Acabei de subir a rampa. A cabeça doi-me e estou atordoada. Respiro fundo várias vezes antes de empurrar a porta. Retiro uma senha e sento-me na única cadeira vaga. Não vejo ninguém. Estou concentrada nos meus pensamentos que se cruzam sem sentido.
Saio do lago e caminho sobre a relva acabada de regar. Deito-me e olho o céu. No mesmo instante passo a estar deitada, de barriga para baixo na nuvem mais bonita que alguma vez vi. Fecho os olhos e quando os abro estou junto ao rio. Nada me é impossível. Aqui em cima sou dona de mim mesma. ...
3 comentários:
e consegues fazer tudo isso cá em baixo :)
se dói quase não se sente...por isso é nuvem lago e flor a borboleta é tudo o que quiser porque ela voa :)
aquela que não quer estar aqui foi ter com aquela a quem não apetece estar em parte alguma.
abraço amigo
ac
E as duas, a que não quer e a que não apetece, encontraram-se com a que não sabe...mas reconhece esse lugar. reconhece e foge. tem refúgio nas memórias que ainda hão-de vir. Há uma cadência dolorida mas eu sou a que pareço não saber. Bjinho
butterzinha onde andas?
estás a fazer falta na salinha :(
muitos beijinhos
ac
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