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Era uma vez um espantalho.

Tinham-no colocado bem no meio de uma seara, esperando que pardais e outras aves não viessem comer os grãos dourados.

O espantalho vivia triste, passava a vida abanando as mangas daquele casaco todo remendado mas ia cumprindo o propósito da sua existência, espantar pardais.

As Estações iam passando e no meio de frio, calor, chuva e intempéries, o espantalho ia desejando, cada vez mais, abandonar o seu trabalho monótono e sem sentido; olhava os montes ao longe e desejava ver o que estaria por detrás deles.

Mas como poderia sair dali só com uma perna?

Um dia caiu uma chuva torrencial e as gotas de água pareciam lágrimas escorrendo pela sua cara. A seguir à tempestade, uns raiozinhos de sol começaram a espreitar, primeiro timidamente até se transformarem num sol radioso. Tudo secou mas as gotinhas de água teimavam em correr pela cara do espantalho.

-Porque choras?- perguntou-lhe uma borboleta.

O espantalho não sabia o que era chorar mas conhecia a amargura de estar preso ao chão e, contou-lhe tudo o que sentia, a tristeza de ali estar e o medo de conhecer o que estava para lá do monte.

-E se tivesses duas pernas, partirias?- disse-lhe a borboleta.

-Acho que sim.- respondeu timidamente.

Como por magia, surgiu outra perna.

- Vá, anda, corre!- gritou a borboleta.

A medo o espantalho deu uns passos, depois correu, atravessou a seara que o prendia, subiu o monte e, sem olhar para trás, desapareceu do meu horizonte.