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Era Inverno, lá fora o vento soprava. Não chovia, antes pelo contrário, o dia tinha estado lindo. Tinha passeado sózinha pelo bosque, o cachecol enrolado ao pescoço e houve alturas em que o sol quase me conseguiu aquecer. O fim de tarde tinha sido magnífico, com os raios de sol colorindo as folhas castanhas do velho carvalho. Naquele momento tive pena que não estivesses junto a mim, assistindo àquela dança de côr.
Dirigi-me para casa. Tinha tanta coisa para fazer. Queria que aquela noite de Natal fosse perfeita.
Entrei na sala carregada com uma braçada de lenha. Tinha arrefecido imenso e era urgente acender a lareira. De joelhos, construia a pilha que nos iria aquecer. Ao longe ouvi o teu carro, o barulho das folhas e troncos estalando sob os pneus. Depois o silêncio. Fechei os olhos e antevi a tua entrada. Nas minhas costas a porta abriu-se e senti os passos na minha direcção. Permaneci de joelhos, imóvel, enquanto tímidas chamas surgiam na lareira.
Abraçaste-me, lembro-me tão bem! No meu pescoço o teu hálito, no meu corpo os teus braços que me envolviam.
Levantei-me e virei-me lentamente para que os nossos corpos se mantivessem juntos, no abraço e aquele momento perdurasse.
Tinhas vindo a tempo de me ajudar. Carregámos a pequena mesa de madeira para junto da lareira e com todo o amor que tínhamos, íamos pondo a mesa, sem esquecer as velas e o raminho de azevinho.
A nossa ceia foi decorrendo sem pressas e acabámos o vinho enroscados no sofá, as mãos entrelaçadas, os corpos juntinhos e os nossos olhos brilhando de felicidade.
A conversa fluía e dizia-nos respeito. Tínhamos conseguido ultrapassar todas as barreiras até chegarmos a esta noite de Natal. Tranquilamente olhávamos o futuro e era do nosso percurso que falávamos: do passado, dos encontros e desencontros, da dor, do hoje, deste cantinho que era o nosso. E falávamos do amanhã, tão distante para ti, tão perto para mim.
Calmamente o tempo ia passando. Meia-noite. Como crianças corremos para a árvore de Natal, aos pés os presentes e em mim a expectativa de ver estampada no teu rosto, a alegria dos receber.
Fomos desembrulhando-os alternadamente, primeiro eu, depois tu; a cada um abraçávamo-nos e lágrimas de alegria iam correndo. Nem sequer havia surpresa, sabíamos exactamente o que o outro queria, não havia segredos entre nós. Tu adoraste a camisola que te ofereci, eu pus o vestido que me deste, folheámosos livros que trocámos, cheirámos os perfumes que conhecíamos de cor.
Naquele momento eu e tu passámos a ser nós e à volta toda a ternura com que tínhamos sonhado.
Soube de imediato que, quando eu partisse, a minha mão estaria presa na tua e os nossos olhos trocariam o último adeus.
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Prometi-te um conto de Natal antecipado. Não sei se era este que querias ? Foi o melhor que consegui fazer. :) Espero que gostes da tua prenda de Natal.
Feliz Natal ...
14 comentários:
Desejo uma óptima semana
pois eu gostei (tão idílico...)
de repente o vento sopra, funesto, primeiro numa pancada, depois em rajada; empurra a porta apaga a lareira (atira com a travessa ao chão); entram os lobos e comem os restos, satisfeitos vão-se embora; gritos gritos gritos! (para quê? é só escuridão); acende a vela lareira, fecha a porta que está frio; telefona à telapizza, afinal foi só susto!
pronto, a caturra estragou o romance
(afinal não era...)
Está lindo, por momentos consegui viajar e sonhar no meio de todo o cenário.....
D.Teresa, não estragou nada.:)Só tenho um reparo a fazer: detesto pizzas logo, dirigi-me a despensa, trouxe uma lata de salsichas e4... atirei-a aos lobos.
Somos umas eternas sonhadoras, Não é P.?
Beijo
uma boa semana para ti também, Micas.
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cinematográfico.
não gosto nada de finais tristes, mas gosto de irreverências. e este conto de natal é uma delas...:)
procura-se Butterfly, perdida há alguns dias ;)
recompensa a quem encontrar...
Também posso fazer parte das buscas e da recompensa...
Para onde terá voado a borboleta?...
Ou quem a terá levado, para outras paragens?...lolol
Até ao teu regresso...
eu não a levei, estou aqui
ó butter: amanhã às 21h
http://www.prahoje.com.br/aruadoscontos/ (as regras, o blog, os desafiados)
Não procurem mais, já foi encontrada e está de boa saúde. Onde posso reclamar a minha recompensa?
Obrigada aqui e agora...
Teremos que falar sobre a recompensa então ;)...
Que tal obriga-la a pagar um cafézinho...a todas...quer dizer, a nós...lolol
Boa semana
(ardeu a cabana com a lareira???)
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